“Eu quero saber
das opressões que você se livrou
e de como seu cabelo
anda cada dia mais
selvagem e lindo
quero saber da culpa que
não te habita mais
quero ouvir
tudo que te silenciaram
eu quero que você me conte
a historia das suas
cicatrizes.” (Ryane Leão)
Ali, no jardim da Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura que o encontro aconteceu. Encontro de poesia, encontro de resistência, encontro pra falar, chorar, se emocionar, manifestar.
Espaço preparado com a exposição “Negras em Retrato”, do Projeto Akpalô, foi dando o tom do encontro. As mulheres homenageadas foram chegando e se vendo na exposição e outras se identificando com as tantas histórias dessas mulheres.
Com as poesias da autora Ryane Leão nas vozes das Escritureiras, cada um foi se aconchegando e entrando no clima do Sarau.
Neide de Almeida e Ketlin, num bate-papo cheio de emoção e lembranças de histórias vivenciadas pelos Akpalôs e o espaço do Museu Afro nessa história, tudo o que foi vivido e compartilhado por cada um/a que vivenciou essa experiência. Trouxe as mulheres da nossa literatura, mulheres negras resistindo. Com a poesia de Conceição Evaristo, Neide emocionou.
“A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.” (Conceição Evaristo)
Ufa, um respiro! Momento de silêncio e reflexão.
Chega Ryane, com sua poesia, compartilha suas histórias e sua obra. Enlaça todos em sua obra e sua fala.
“A recomendação é persistir. Acreditar na própria voz, ignorar quem encher o saco e persistir. Não só na escrita, mas em si mesma. A gente costuma desistir da gente muito fácil, mas isso tá mudando. Acho que ter fé em si mesma e procurar espaços que alimentem isso é essencial. E se alguém duvidar, cê nem vai ligar porque estará lutando atrás do seu trampo. Da sua essência. É isso que importa.” (Ryane Leão, https://medium.com/mulheres-que-escrevem)
E foi nesse desejo de se reconhecer e resistir que Ryane Leão compartilhou seu ser e como vem envolvendo outras mulheres neste espaço de escrita de suas histórias.
Agora sim, respiro. Uma pausinha para o café, momento de conversa, de risadas e de trocas de figurinhas.
Então chega a Cia Teatral Artemanha ao som do tambor o do poema “Negra”, silenciando quem falava. E seguiu assim, com textos de Angela Davis, Cora Coralina, homenagem a Marielle Franco, Zuzu Angel, Maria da Penha, Cláudia Santos e Malala. Momento de grande emoção quando cartazes foram distribuídos para as mulheres do evento e nas diversas vozes compartilham o desejo de liberdade e respeito…
Cai a noite e as meninas da Cia Unidos pela Dança fecham com beleza e força.
A experiência vivida no Sarau seguiu em outros momentos da vida de cada um/a que pôde compartilhar a vida e beber da essência da força e da esperança de mudanças.