Vamos falar de esperança? De cuidado e de delicadeza? De apostas em um mundo melhor, que recebe os que chegam nele, esse território desconhecido, com afeto e poesia?
Desde o ano passado, jovens, educadoras e de pessoas de Parelheiros se reuniram em oficinas virtuais com o escritor João Carrascoza e a fotógrafa Juliana Monteiro Carrascoza, para escrever, pensar a escrita e se aventurar na fotografia, costurando essas duas linguagens em uma produção emocionante: o livro Nascidos para ler no melhor lugar para viver, Organizado pelo IBEAC, Instituto Emília, com o apoio da Fundação Itau para Educação e Cultura.
Semana passada recebi o livro em mãos. Trata-se de uma ode ao amor. E à vida em comunidade. Na capa, um bebê entre sorrindo e dormindo nos convida a entrar. A fotografia está tão nítida que conseguimos até ver o calinho que se forma nos lábios do bebê que é constantemente amamentado. Sentimos o cuidado, o colo, o calor, o alimento. Ele parece estar tão bem, que como leitora, também me senti melhor e feliz.
As páginas de guarda impressionam, mas de outro jeito. São fotografias aéreas de Parelheiros. Vemos muito verde, uma represa, muitos telhados cinzas, ruas de terra. Estamos em uma periferia. Periferia? Que nada, estamos no centro. No seio de uma comunidade, na acepção do que essa expressão significa. Qualidade do que é comum, que pertence a todos; paridade; comunhão, identidade. Está tudo ali. Cada canto naquela fotografia área está nomeado, evidenciando os lugares de ler naquele bairro. Casas de histórias, territórios abraçados, bibliotecas, ruas adotadas, hortas comunitárias, maternidade, casa do meio do caminho, cozinha de alimentação saudável, entre outros.
Olha as palavras escolhidas para nomear cada lugar de leitura. Quanto elas nos contam sobre o que é ser uma comunidade. E então, o mapa vai nos revelando o que pode ser o melhor lugar para viver. Certamente é onde nos sentimos acolhidos. Como o bebê da capa e como todos os outros que vêm sem seguida. Nas fotografias em preto e branco e nos textos singelos e poéticos que refletem o olhar delicado para aquele que chega ao mundo, querendo saber onde veio parar, desejando conhecer tudo. Com todo o direito que qualquer ser humano tem quando nasce: o direito ao afeto, acolhimento, atenção, cuidado, calor e poesia, literatura e o direito de poder ocupar o lugar de quem tem a palavra: lida, escrita e compartilhada. Lugar no mundo da escrita, lugar de fala e de escuta. Lugar no mundo.
Ao final, as últimas guardas retomam as imagens aéreas. Estão ali novamente o verde, a ruas de terra, os telhados cinzas. Só que ainda mais encarnado: estão ali as pessoas que fazem aquele lugar se tornar uma comunidade e que acolhem com poesia e histórias os que chegam naquele mundo. As legendas nos mostram que em cada pedacinho daquele bairro há pessoas que leem para as crianças em Parelheiros: médicos(as), mães mobilizadoras, irmãos, pais, enfermeiros(as), mediadores(as) de leitura, educadores(as), jovens articuladores, cozinheiras (os), escritoras (es), agentes comunitários(as), produtores orgânicos.
O mundo todo está precisando ser um lugar melhor para se viver. Nascidos para ler no melhor lugar para viver pode ser um dos espelhos para todo o mundo se mirar.
Texto por Ana Carolina Carvalho, psicóloga e mestre em educação. Formadora de educadores do Instituto Avisa Lá e membro do Instituto Emília.
Quer conhecer mais sobre essa produção? Assista ao vídeo abaixo!