Cuidados prioritários com a primeira infância desde a barriga – direitos das gestantes, mulheres, bebês e crianças pequenas

 

Ao chegar no território de Parelheiros o Ibeac aprendeu a olhar para seu presente e possibilidades de futuros e descobrir o potencial de seus moradores.

Em parceira com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento – CPCD, decidimos priorizar o início da vida e cuidar com excelencia da primeira infância desde a barriga, reunindo nossas energias, compartilhando e aprimorando nossas tecnologias sociais.

A partir de experiências e conceitos vividos e refletidos em nossas caminhadas, criamos no início de 2017 o Centro de Excelência em Primeira Infância em seis bairros – Barragem, Colônia, Jardim Silveira, Nova América, São Norberto e Vargem Grande, onde se concretiza essa linha de atuação.
Para não perder nenhuma gestante e nenhum bebê, duplas de Mães Mobilizadoras trabalham com humanidade, amorosidade, acolhimento, autocuidado, cuidado, solidariedade, respeito e compaixão.

Os desafios nos provocam, pois ainda que o Brasil tenha desde 1990 o Estatuto da Criança e Adolescente, um dos documentos mais avançados do mundo, ainda não conseguiu concretizar uma política nacional de proteção integral e efetiva para suas crianças pequenas. Com muita preocupação assistimos à redução drástica de recursos orçamentários, em programas que efetivamente garantam os direitos das crianças e reduzam as desigualdades socioeconômicas em suas vidas. Retrocedemos com a volta da pobreza monetária e extrema, o grande número de crianças de 0 e 5 anos sem vagas em creches e escolas, o aumento da violência doméstica e policial, os desastres causados por mudanças climáticas e o crescimento de doenças mentais (Unicef, 2019).

Parelheiros tem o maior percentual de crianças de 0 a 6 anos da cidade de São Paulo e reflete essa realidade com alguns dados provocadores: o segundo maior índice de gravidez na adolescência, com 16,53% de crianças nascidas vivas de mães com idade inferior a 19 anos; pré-natal insuficiente para 22,9% das gestantes; apenas 36,8% dos domicílios locais atendidos pela rede geral de esgoto sanitário, segundo pior índice da cidade; média de 48 dias de espera para as consultas pediátricas, quinto pior índice da capital. (Mapa da Desigualdade da Primeira Infância São Paulo 2020 – Nossa São Paulo).

No que acreditamos e o que temos feito

Nas visitas olho no olho às gestantes, duplas de Mães Mobilizadoras dialogam e fazem uma escuta empática com mães e gestantes. Conversam acerca do plano de parto, do pré-natal, do cuidado na gestação. É nesse momento que com as mães e seus pequenos, fazem mediação e contação de histórias, papos sobre autocuidado, afeto, vínculos, estimulação do desenvolvimento infantil, amamentação exclusiva (Flor de Mãe), massagens no bebê (Shantala). Para estimular novos hábitos, gestantes, mães e crianças são convidadas a plantar hortas em suas casas, preparar comidas saudáveis, conhecer ingredientes, receitas, aproveitar alimentos, degustar refeições coletivamente, frequentar clubes de troca, baseados na economia solidária.

Para abraçar a causa da Primeira Infância e seus desafios, temos “convocado a aldeia”, dos moradores aos serviços de saúde, educação, assistência social, organizações locais. O envolvimento acontece em rodas de conversa, construção de pontes, parcerias e compromissos, participação nas ações.

Nas conversas, direitos são reafirmados e traduzidos em linguagem simples, para que sejam incorporados no dia a dia. A escuta de falas de gestantes e mães é fundamental e respeita as diversidades das famílias. A mãe bem cuidada, cuida melhor do seu filho, o cafuné obstétrico previne a violência obstétrica, o apoio e a solidariedade incentivam a autonomia e o “empodimento” de cada uma e de todas.

Investe-se em relações harmoniosas que contagiam o time, as gestantes, as mães e as famílias moradoras em ruas que são adotadas, para que adotem as crianças. Nas ruas encontros de crianças, agendas de brincadeiras, mediação de leitura, plantio de mudas, pinturas de muros e de percursos lúdicos com tinta de terra, confecção de brinquedos, jogos coletivos, rodas e cantigas, sessões de cinema e de teatro. Escolas e creches levam suas crianças para as ruas adotadas, transformadas em espaços de aprendizagens.
Para essas ações as Mães Mobilizadoras mobilizam Mediadoras de Leitura, Agentes de Comunidades Saudáveis, Mulheres da Cozinha Amara, Articuladores da Biblioteca Caminhos da Leitura.

Casa do meio do caminho

A excelência do cuidado se estende para a hora do nascimento, quando a gestante deve se sentir segura e estar cercada de afeto, atenção e respeito.

Se nosso foco é cuidar dos bebês desde a barriga, o nascimento merece proteção e carinho. Se pensamos no futuro de Parelheiros, é importante cuidar do nascimento de seus futuros cidadãos. 

Inaugurada em janeiro de 2019 a Casa, inspirada na experiência desenvolvida em Itapecuru Mirim – MA, foi sonhada desde o início do Centro de Excelência. 

Sua localização é estratégica, encostada no Hospital e Maternidade Interlagos, referência para o nascimento dos bebês de Parelheiros, na mesma rua do Ambulatório do HMI, onde são acompanhados os bebês e crianças mais frágeis e realizados os pré-natais de risco, como os das gestantes adolescentes.

A Casa que funciona 24 horas por dia, oferece apoio e acolhimento às gestantes nas horas que antecedem o nascimento dos bebês, nos dias de consulta no Ambulatório e às puérperas cujos bebês permanecem na UTI neonatal. A Casa disponibiliza alimentação – sopas, pães e hospedagem para gestantes e puérperas e seus acompanhantes.

Fazer COM

As ações do Centro de Excelência em Primeira Infância envolvem a participação das Mães Mobilizadoras desde seu planejamento. 

As pedagogias e tecnologias sociais são inclusivas e inovadoras, capazes de serem multiplicadas em outros contextos sociais.

Todo processo de ação/reflexão/ação busca o fortalecimento e a valorização de cada uma e de todas e todos, mudanças e melhorias para suas vidas e para suas comunidades.